Atentado a jornal francês repercute entre cartunistas pernambucanos

“Minha reação foi de pasma total”, diz o cartunista Lailson, que dividiu uma mesa na Bienal Internacional dos Quadrinhos, em 1993, com o colega de profissão Wolinski, um dos quatro cartunistas assassinados no ataque terrorista à sede da revista Charlie Hebdo. “Eles já tinham uma atividade muito grande nos anos 1960 antes da Charlie. A revista Pasquim foi muito influenciada, o Jaguar, Ziraldo (fundadores da Pasquim)…”. “Eu, ainda menor de idade, filava os cartões eróticos do Wolinski numa publicação masculina Status, lá pela década de 1980. Foi uma geração bem influenciada por ele”, diz Samuca. “Só agora conheço a Charlie e fiquei admirado. Bastante aguerrida e crítica”.

Para Lailson, o evento joga uma luz sobre o cerceamento da liberdade de expressão e da diversidade. “O politicamente correto é mito de tolerância. Não havia nada que fosse sagrado na Charles Hebdo. As pessoas têm direito da crítica, da sátira. Não tem que se impor um pensamento único. Eles tiveram coragem de ter suas próprias opiniões e pagaram um preço altíssimo”.

“É um medo da opinião. É muito simbólico a gente ver que a opressão no é só sobre os direitos civis ou políticos, mas também dos direitos de existir e pensar. As charges tinham um poder muito maior nos jornais e no final dos anos 1990, muita coisa teve de ser cortada”, continua.

O chargista Felic recebeu a notícia como uma ameaça que lhe tocou individualmente. “Você sabe que manifestações fanáticas estão no mundo, não tá restrito à França. Não tenho relação de idolatria, a sensação é que foram parceiros de trabalho”. Já o também desenhista Humberto comenta os limites da charge nos meios de comunicação de massa. “Chargistas costumam sofrer uma certa pressão editorial para não comentar questões religiosas. Até há mais liberdade pra bater de frente com poder político, mas em outros assuntos a gente caminha numa linha tênue”. “Acho que a liberdade foi atacada, fraternidade foi afetada e igualdade ignorada”, definiu Samuca. “À nós, só nos resta carregar os tinteiros e apontar o lápis pra combater a intolerância”.

Da redação do blog do edy.com.br

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