As paredes sem reboco, espaço apertado e quente era uma das salas de aula. A estudante Leidiane Alves da Silva, de 11 anos, não tem boas lembranças de ir à escola no ano passado. “Uma amiga minha passou mal dentro da sala porque não tinha ventilador. Tinha vezes que sentávamos junto com outro porque não tinha espaço para colocar outra cadeira. A gente sentava no chão perto do quadro para escutar ela [a professora]”, diz a estudante emocionada.
O espaço provisório foi alugado pela prefeitura de Santa Maria da Boa Vista para reformar a escola da vila. Uma parede de gesso, quase solta, divide duas salas. De um lado 42 estudantes do 4º ano, do outro 23 alunos do 3º ano. Além do calor, o barulho das duas turmas dificultava o andamento das aulas.
“Era insuportável. Aqui nessa sala os alunos passavam mal. Sabe aquela sensação de estar dentro de um ovo? Era aqui. Não dava para ensinar porque na maioria do tempo era pedindo silêncio, pedindo para se acalmarem. A gente não quer extensão, a gente quer o prédio da nossa escola” diz a professora substituta Maria das Dores, que se sente frustrada pelas condições do lugar.
Livros encontrados no prédio provisório da Escola Municipal do assentamento Catalunha. — Foto: Reprodução/TV Grande Rio
Alguns livros da escola foram encontrados no chão. As condições dos banheiros também são precários. Os pais dos alunos contam que só aceitaram o espaço provisório porque não tiveram alternativa. “Todos nós estávamos sendo prejudicados porque o aprendizado das crianças foi totalmente negativo. Um descaso com a educação”, diz a mãe de um aluno, Joilma Maria dos Santos.
Os funcionários da obra da escola pararam de trabalhar por falta de pagamento. — Foto: Reprodução/TV Grande Rio
Conforme a placa no local, o primeiro prazo para entrega seria no dia 24 de janeiro deste ano. Segundo os moradores, em novembro de 2019, os funcionários pararam de trabalhar por falta de pagamento. Foram mais de 30 dias de paralisação.
As aulas da rede municipal estão previstas pra o próximo dia 13 de janeiro. Com esse atraso, o ano letivo no assentamento deve começar mais tarde. O secretário de educação da cidade, Adão Dias, reconhece que o espaço alugado não tinha estrutura adequada e fez um acordo com a comunidade. Ele garantiu que a reforma da escola vai ser concluída no início de março.
“O espaço que nós colocamos a disposição para funcionar o ano letivo de 2019, é um espaço inadequado, impróprio que foi construído para funcionar como residência e não como escola. De fato, a gente está com um certo atraso, a obra deveria ter sido concluída no dia 24 de janeiro de 2020, mas tivemos alguns contratempos. As famílias, com toda razão, estão exigindo que a gente só retome o ano letivo no novo espaço e para a gente retomar, a gente tem uma perca de 10 dia letivos que precisamos assegurar com a reorganização do calendário da escola para garantir essa reposição”, diz o secretário.
Os pais dos alunos disseram que os estudantes só voltam a estudar quando a unidade for entregue. — Foto: Reprodução/ TV Grande Rio
A escola vai ter nove salas climatizadas, biblioteca e pátio coberto para recreação. Os pais não aceitam o retorno dos filhos ao espaço provisório. Os estudantes só voltam a estudar quando a unidade for entregue.
“A gente fechou um prazo com eles e acreditamos que eles vão ter cumprido esse prazo. Até porque foi dito e filmado que se dia 2 de março, eles não cumprirem, a gente vai para o Ministério Público, porque a comunidade cansou. A única coisa que temos que buscar é um futuro para nossos filhos”, destaca a mãe de um aluno, Railane Barros.(G1)