É seca que não acaba mais!

Falar em seca é algo sem fim pra nós araripeanos, sertanejos e nordestinos. De 2011 pra cá ficou algo interminável, sem fim. Neste mês de setembro a APAC – Agência Pernambucana de Águas e Clima, em boletim publicado dia 18 de setembro, intitulado: Análise das Condições Oceânicas, apresentou indicadores nada animadores para todos nós. Segundo a agência, “a previsão de El Niño de moderado a forte continua até final do ano e com chance acima de 80% que se estenda até o término do período chuvoso do Sertão Pernambucano”. Para não se basear apenas nos dados apresentados pela APAC, o Centro de Previsão do Clima – CPC, dos Estados Unidos, emitiu nota no último dia 10, afirmando que o fenômeno, que inciou em março deste ano, deve durar até o segundo trimestre de 2016 e pode ser um dos mais intensos da história. Segundo o CPC, há cerca de 95% de possibilidades de que o El Niño persista durante o inverno 2015-16 no hemisfério norte, antes de perder gradualmente sua intensidade até a primavera”.

Outro fato importante revelado pela APAC é que, mesmo o El Ñino sendo considerado neste momento como moderado, já impacta na quadra chuvosa de janeiro a abril/16, devendo ficar com as médias abaixo do normal, de modo que poderemos ter chuvas normais somente no final de 2016 para início de 2017. Sabemos bem como funciona: os pequenos reservatórios secam rapidamente, como já está ocorrendo, os de médio porte seguram um pouco mais, até dezembro ou janeiro, com isso a água vai ficando mais escassa e distante e a dependência por carro-pipa chega ao extremo, como já ocorre em diversas comunidades rurais.

O pasto para os animais já apresenta sinais de escassez e cada vez mais cresce a dependência por silagem ou de ração comprada, podendo chegar ao ponto de vender parte ou todo rebanho, como ocorreu nos anos de 2012 a 2013. Como agravante, temos que os grandes reservatórios se encontram em situação caótica: o açude Entremontes está com 4% da sua capacidade de 340 milhões de m3, o Tamboril com 0,9% da sua capacidade de 28 milhões de m3 , e o açude Algodões encontra-se com 16,4% de sua capacidade de 58 milhões de m3. Da capacidade total de armazenamento dos grandes reservatórios da Região do Araripe monitorados pela APAC, que é de 492 milhões de m3, temos apenas 6,2% armazenados, ou seja, 30,5 milhões de m3. A falta de água nos reservatórios de médio e pequeno porte vai gradativamente aumentando a pressão sobre a adutora do agreste, atingindo também o abastecimento nos centros urbanos.

Sabemos que as previsões climáticas apresentadas pelas agências ou institutos de monitoramento do clima não são tão facilmente acreditadas, especialmente pelos agricultores familiares, que preferem manter sua crença nos sinais da natureza ou mesmo acreditar que logo tudo se resolve e o próximo inverno será tão grandioso quanto tantos outros que tivemos anos atrás. Porém, os Governos Municipais, Estadual e Federal não podem adotar este mesmo procedimento e ficar esperando que amanhã tudo se resolva, mesmo que venha a acontecer. Os dados estão claros e são apresentados por agências oficiais e portanto merecem atenção dos gestores no sentido de adotar medidas preventivas.

Considerando o cenário que se apresenta, faz-se necessário estabelecer um processo de monitoramento da seca, a partir dos municípios, envolvendo órgãos do Estado, Gestores Municipais e Sociedade Civil Organizada, de forma permanente, coletando informações no sentido de pontuar ações metigadoras de curto, médio e longo prazo, que permitam amenizar ou anular os efeitos da estiagem sobre as pessoas e animais. De toda forma, enquanto aguardamos a normalidade do clico das chuvas, precisamos fazer nossa parte, mobilizando e aglutinando forças, com a clareza que estamos atravessando uma das piores secas dos últimos tempos e que tende a se agravar.

Por Reginaldo Alves*

* Engenheiro Agrônomo, Assessor de Meio Ambiente da FETAPE.

Da Redação do Blog do Edy Vieira

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